sábado, 29 de agosto de 2009

Sobre emoções e colchas de retalhos.

Qual seria uma imagem cotidiana que poderia representar as várias emoções que constituem a trama da vida humana?
Depois de algum tempo pensando sobre isso me ocorreu a figura de minha avó a costurar colchas de retalhos. Naquele tempo olhava tal cena espantado e me perguntava: “Como aquela velhinha conseguia fazer daqueles retalhos, aparentemente inúteis, colchas tão necessárias para aquecer o frio?”.
Relendo aquela lembrança percebo que aquele gesto de minha avó só era possível porque nela habitavam muitas emoções. Aquele olhar transmitia um carinho que o tempo nunca me revelou semelhante.
Emoções são como colchas de retalhos, vão fazendo-se nas somas dos retalhos de nossa vida, de nossa história. Com seu colorido aquecem a frieza dos dias; dessas emoções temos saudades, nos trazem a ilusão de querer voltar a um passado tão presente. Deve ser por isso que alguém disse: “A saudade deseja voltar e não ir para frente”.
Emoções são como colchas de retalhos, vão se juntando no encontro das linhas e das agulhas de nossa vida. De forma obrigatória, sem liberdade, essas podem não corresponder com seu fim de aquecer. Essas emoções gostaríamos de deixar de lado, nos ensinaram muito, mas nos emocionam negativamente. Dessas não temos saudades.

*O texto acima pertence ao livro "Um olhar simples sobre os detalhes do cotidiano", de Leandro Lopes Claro.

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