Após assistir o filme “Cazuza: o tempo não para”, pela segunda vez, observei três coisas
Drogas para fugir da rotina, sexualidade para transbordar os
sentidos e a música como uma forma de crítica e autocrítica. Uma existência que
pouco considerou a receita: “vida feliz é vida equilibrada”.
Apesar desta afirmação radical da existência, as
consequências vieram e o diagnóstico do HIV foi arrebatador. “O tempo não
para”, e assim o fez, implacável não deu chance ao poeta carioca.
Geralmente, esta obra é utilizada, entre os jovens, como um
elemento causador de medo, afinal de contas, quando o cultivo da autonomia
falha este é o primeiro método que muitos recorrem para controlar. Ou é usada, na
melhor das intenções, apenas como uma reflexão sobre a necessidade da prudência,
como uma forma de viver mais tempo, como se isso simplismente fosse garantia de felicidade. Nesse
sentido, o clichê moralizante é esperado, não há novidades, só mais do mesmo.
No entanto, procurei outro olhar sobre a obra, descobri uma
sutileza: mesmo afirmando a existência e sofrendo suas
consequências, em nenhum momento a personagem se faz de vítima, ou seja,
responsabiliza seus colegas, família, parceiros, sociedade ou
moral. Coisa que é muito comum se fazer, por estes quatro cantos do Brasil hoje.
Afinal de contas, ser vítima está na moda, em nossa democracia. Enquanto a honra
e a honestidade são coisas para os inocentes, tolos. Quem teria honestidade intelectual o bastante de reconhecer que apostou suas fichas em uma causa perdida?
Afirmar a vida de modo radical deve ser seguido com responsabilidade. No entanto, o que vemos hoje é muitos querem dar uma de “Cazuza” e depois deixarem a conta para outros pagarem, como se dissessem: “o prazer é meu, mas o trabalho é seu”, “a diversão é minha, porém, a limpeza é sua”. Deste modo é fácil ser ousado, rebelde ou inovador. Afinal, por que me preocupar, se minha dívida será debitada na conta dos outros?
Afirmar a vida de modo radical deve ser seguido com responsabilidade. No entanto, o que vemos hoje é muitos querem dar uma de “Cazuza” e depois deixarem a conta para outros pagarem, como se dissessem: “o prazer é meu, mas o trabalho é seu”, “a diversão é minha, porém, a limpeza é sua”. Deste modo é fácil ser ousado, rebelde ou inovador. Afinal, por que me preocupar, se minha dívida será debitada na conta dos outros?
Não existe humanidade perfeita, pois seu próprio conceito
sintetiza o de pior e o de melhor que em nós habita. Cazuza não se coloca
como um exemplo, nem era esta sua intenção. Mas, realmente, nos deixa uma provocação,
de como dentre as várias possibilidades de afirmar a existência, assumir os
prazeres e consequências da vida, sem lamúrias, sem culpados ou inocentes, simplismente sua pura
e torturosa afirmação. Será que somos corajosos o bastante ao menos para reconhecer isto?