quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Salvar a humanidade ou condenar um inocente? Um devaneio sobre o filme "72 horas".

“Se para salvar a humanidade fosse preciso condenar um inocente, deveríamos fazê-lo? Não, a cartada não valeria o jogo, ou antes não seria uma cartada, mas ignomínia. (Dostoiévski) Porque se a justiça desaparece é coisa sem valor vivermos sobre a Terra” (Kant)".

O que resta, quando supostas provas não estão a serviço da verdade? E se a justiça falhar? E se a sentença pretender arrancar aquilo que mais amamos? O que fazer?

Ultimamente, percebo que muitas produções cinematográficas passaram a acentuar o erro policial em suas tramas, bem como o processo jurídico e sua vulnerabilidade ante as intenções daqueles que acusam o réu. Apenas para citar alguns, “Os justiceiros de Deus”, com John Leguizamo, e “Tropa de elite II”, com Wagner Moura, salvo suas ênfases específicas, destacam que algumas aparentes verdades aceitas socialmente, são meros erros ou mentiras. Todo conhecimento é parcial. Como diria Immanuel Kant, “Das coisas apenas podemos conhecer os fenômenos, jamais a essência”.
O filme “72 horas”, segue esta linha também. Desenvolve como um de seus pontos fundamentais o drama do professor John (Russell Crowe), com um filho, que vê sua esposa Lara (Elizabeth Banks) ser condenada à prisão perpétua por assassinato.
Por alguma razão, John, apresenta a certeza inabalável de ela não teria cometido tal crime, mesmo quando já desacreditado por um advogado, ouve da própria mulher uma suposta confissão de que teria cometido tal ato. Mesmo assim não desiste. Desacreditado das instancias jurídicas, planeja então a fuga de sua família de seu país. Única saída possível para uni-los novamente.
Por fim, a obra parece defender a tese de que, quando supostas provas são usadas apenas para tranqüilizar a mente entorpecida de alguns, ou quando a justiça não for justa e resolver retirar aquilo que mais precioso que temos, então resta-nos algo, bem longe do que Sócrates faria, mas nem tão menos louvável: a fuga como única forma de fazer justiça.